O presidente de Angola, curiosamente também Presidente do partido (MPLA) que “só” governa o país há 44 anos e também Titular do Poder Executivo, felicitou o primeiro-ministro da Etiópia, pela atribuição do Nobel da Paz e considerou-o como “um exemplo inspirador” a ser seguido por líderes e figuras políticas africanas. João Lourenço pensa que, para além da maioria dos autóctones, todos os outros povos são matumbos.
“E ste Prémio que acaba de lhe ser atribuído é uma demonstração clara de que sempre vale a pena colocar acima de qualquer diferença os anseios dos povos à paz e, em função disso, primar-se pelo diálogo e pela solução pacífica dos diferendos, seja qual for a sua natureza e complexidade”, afirma o presidente João Lourenço, numa mensagem escrita dirigida ao primeiro-ministro da Etiópia e vencedor do Prémio Nobel da Paz deste ano, Abiy Ahmed. Desconhece-se se, em “post scriptum”, terá acrescentado “olhem para o que digo e não para o que eu fiz e faço”.
No mesmo documento, João Lourenço diz que recebeu a notícia da atribuição do Nobel da Paz a Abiy Ahmed “com grande satisfação” e acrescenta: “O Prémio Nobel a si atribuído é um exemplo inspirador a ser seguido por líderes e figuras políticas africanas, que deverão tomar como referência este exemplo, para a solução dos conflitos que ainda perduram no nosso continente”.
João Lourenço felicita o primeiro-ministro etíope, “em nome do povo e do executivo angolano” bem como de si próprio. Recorde-se que, por exemplo e ao contrário de Angola, Abiy Ahmed não é Presidente da República e que o sistema político etíope é parlamentarista.
Em Abril de 2018, em plenos protestos generalizados contra o regime autoritário de Hailemariam Desalegn, assumiu a chefia do governo e tem encabeçado um amplo processo de reforma política, social e económica, desde a libertação de milhares de presos políticos ao regresso de vários dirigentes opositores exilados.
Paralelamente avançou com a liberalização progressiva da economia em detrimento do habitual monopólio estatal, avançou com uma reforma constitucional para rever o sistema de federalismo étnico implementado no país, considerado como um dos principais motivos para as tensões raciais persistentes em Etiópia. A sua administração tem aumentado também a participação das mulheres na política etíope, apoiando a eleição de Sahle-Work Zewde como presidente da República e promovendo a nomeação da advogada e activista pelos direitos das mulheres, Meaza Ashenafi, como presidente do Supremo Tribunal Federal.
Na mensagem, o presidente de Angola refere que recebeu a notícia “com grande satisfação, por se tratar do reconhecimento de todos os esforços” que Abiy Ahmed “empreendeu corajosamente para pôr fim a um conflito que durante anos afectou os interesses do progresso e desenvolvimento do povo etíope e do povo eritreu”.
De acordo com o comunicado divulgado pelo júri do Nobel, o prémio foi atribuído ao primeiro-ministro da Etiópia pelo “seu importante trabalho para promover a reconciliação, a solidariedade e a justiça social”.
O prémio também visa reconhecer “todas as partes interessadas que trabalham pela paz e reconciliação na Etiópia e nas regiões leste e nordeste da África”, sublinhou a nota.
“Abiy Ahmed Ali iniciou importantes reformas que proporcionam a muitos cidadãos a esperança de uma vida melhor e de um futuro melhor”, refere o comunicado. O Comité Nobel norueguês acredita que é agora que os esforços de Abiy Ahmed merecem reconhecimento e precisam de incentivo.
No ano passado, o prémio foi atribuído ao médico Denis Mukwege, da República Democrática do Congo e à activista de direitos humanos Nadia Murad devido aos esforços dos dois laureados para acabar com a violência sexual como arma nos conflitos e guerras de todo o mundo.
João Lourenço também queria. Falta pouco para… quase!
Em Angola, o MPLA é governo há 44 anos e João Lourenço Presidente (do MPLA e da República) e Titular do Poder Executivo há dois anos. Há ano e meio, saliente-se, Abiy Ahmed Ali começou a governar nomeando logo líderes da oposição para funções principais do Estado…
Ao fim de 13 meses de governo, João Lourenço afirmou que conseguiu o milagre de ter feito muito. É verdade. Em tão curto espaço de tempo já conseguiu pôr os rios a correr para o… mar. Pena foi que, certamente por distracção ou pressões dos marimbondos, o Comité Nobel norueguês não tenha considerado relevante esse feito.
“Eu exerço este cargo há exactamente 13 meses, portanto, exigir do meu Executivo muito mais do que temos vindo a fazer, não parece justo nem realista sequer”, disse João Lourenço, acrescentando que “não há milagres, mas mesmo assim já conseguimos o ‘milagre’ de termos feito muito em pouco tempo”.
De facto, o conceito de milagre não é recente no MPLA: “Não há milagres para inverter o actual quadro económico e social de Angola. Há trabalho reservado para todos angolanos e para os estrangeiros que escolheram o nosso país para viver ou para investir e trabalhar”.
Quem disse isto? Nada mais, nada menos, do que Luísa Damião, hoje vice-presidente do MPLA, no Congresso do Partido Comunista Português, a 4 de Dezembro de… 2016, em Almada, e que então representava o MPLA, na versão (hoje ostracizada) José Eduardo dos Santos.
Seja como for, mantendo a mesma linha do seu antecessor, desde logo porque como José Eduardo dos Santos não foi nominalmente eleito, João Lourenço bate aos pontos a anterior santa milagreira do MPLA, Isabel dos Santos, que transformava ovos comuns em ovos de ouro. Está a revelar-se um verdadeiro messias, um autêntico D. Sebastião africano e negro e potencial vencedor do próximo Nobel da Economia (por não conseguir diversificar a economia) ou da Paz (por continuar a enaltecer o papel de um genocida – Agostinho Neto – na história mundial).
De facto, ao fim desses 13 meses era já possível afirmar com toda a certeza e segurança, que João Lourenço “soube liderar com bastante perspicácia” a luta pela libertação, registando já como legado a independência do país do jugo colonial português. Isto para já não falar da libertação de África, do fim da escravatura no mundo e da democratização da Coreia do Norte.
Nesses 13 meses o mundo já reconhecia o papel único de João Lourenço, tanto em Angola como em África e até nos restantes continentes. Por isso todos esperávamos que, em 2019, a Academia Nobel não se esquecesse de lhe atribuir um Prémio Nobel. Qual? Tanto faz. Modesto como é, aceitará com certeza qualquer um. Infelizmente esqueceu-se!
Acresce que excluindo-o, ou esquecendo-o, a revolta vai instalar-se no regime e as repercussões mundiais serão graves. Todos sabemos que quando João Lourenço espirra, o mundo apanha uma grave pneumonia.
De facto, não se compreende que já tenha atribuído o Prémio Nobel a, por exemplo, Malala Yousafzai, a jovem paquistanesa que alertou o mundo para o direito à educação, em particular das raparigas, juntamente com o activista indiano pelos direitos das crianças, Kailash Satyarthi, e não reconheça o desempenho de João Lourenço.
Todos sabemos que um Prémio Nobel para o presidente seria o mais elementar reconhecimento de que João Lourenço é “o líder de um ambicioso programa de Reconstrução Nacional”, que a “sua acção conduziu à destruição do regime de “apartheid”, tem “um papel de primeiro plano na SADC e na CDEAO”, que “a sua influência na região do Golfo da Guiné permite equilíbrios políticos”.
A Academia Nobel esquece-se de pontos fundamentais: O Presidente João Lourenço não governa. Ele é o líder de um povo que teve de enfrentar de armas na mão a invasão de exércitos estrangeiros e os seus aliados internos; ele foi o líder militar que derrubou o regime de “apartheid”, o mesmo que tinha Nelson Mandela aprisionado e só aceitou depor as armas quando a Namíbia e a África do Sul foram livres e os seus líderes puderam construir regimes livres e democráticos; foi graças a João Lourenço que Portugal adoptou a democracia, que a escravatura foi abolida, que D. Afonso Henriques escorraçou os mouros, que Barack Obama foi eleito e que os rios passaram a correr para o mar.
Na realidade, o divino carisma de João Lourenço tornou-o o mais popular político mundial, pelo menos desde que Diogo Cão por cá andou. Tão popular que bate aos pontos Nelson Mandela e Martin Luther King e Abiy Ahmed Ali.
E, é claro, João Lourenço nada tem a ver com o facto de Angola ser – entre muitas outras realidades – um dos países mais corruptos do mundo, de ser um dos países com piores práticas democráticas, por ser um país com enormes assimetrias sociais, por ser um dos países com um dos maiores índices de mortalidade infantil do mundo.
Folha 8 com Lusa